O plano de 800 mil milhões apresentado na terça-feira por Ursula von der Leyen e que tem como objetivo “rearmar a Europa” passa também por estimular a indústria de Defesa europeia. “Estamos numa era de rearmamento e a Europa está pronta para aumentar maciçamente as suas despesas com a Defesa”, afirmou a presidente da Comissão Europeia.
Uma estratégia que se tornou premente depois da invasão russa da Ucrânia e crítica desde o regresso de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, país a quem os europeus compraram 55% das armas que adquiriram no período entre 2019 e 2023, de acordo com dados do Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI). Nos quatro anos anteriores, este valor tinha sido de apenas 34%. Os maiores fornecedores seguintes da Europa foram a Alemanha e a França, que representaram 6,4% e 4,6% das importações, respetivamente.
De notar ainda que as importações de armas pelos europeus foram 94% mais elevadas em 2019/23 do que em 2014/18, sendo que a Ucrânia aparece como o maior importador europeu de armas entre 2019 e 2023 e o quarto maior do mundo, depois de pelo menos 30 países terem fornecido armas importantes como ajuda militar a Kiev desde a invasão russa.
“Mais de metade das importações de armas pelos Estados europeus provêm dos EUA”, observava há um ano Dan Smith, Diretor do SIPRI, “enquanto, ao mesmo tempo, a Europa é responsável por cerca de um terço das exportações mundiais de armas, incluindo grandes volumes para fora da região, refletindo a forte capacidade militar-industrial da Europa”.
Segundo um relatório do SIPRI, são muitos os fatores que influenciam a decisão dos países europeus da NATO de importar armas dos Estados Unidos, “incluindo o objetivo de manter as relações transatlânticas a par de questões mais técnicas, militares e relacionadas com os custos”, mas nota que “se as relações transatlânticas mudarem nos próximos anos, as políticas de aquisição de armas dos Estados europeus também poderão ser alteradas”. O que poderá vir a acontecer agora.
Mas apesar de a Europa ser responsável por cerca de um terço das exportações mundiais de armas, a verdade é que este mercado é dominado pelos Estados Unidos, casa dos cinco maiores fabricantes de armamento do mundo desde 2018, apresentando no total 41 empresas entre as 100 maiores, que registaram em 2023 receitas no valor de 317 mil milhões de dólares (cerca de 295 mil milhões de euros), metade das receitas totais de armas do top 100 e mais 2,5% do que em 2022.
As guerras na Ucrânia e no Médio Oriente, e a consequente tensão geopolítica mundial, levaram a que as 100 maiores empresas mundiais da indústria do armamento aumentassem as suas receitas em 4,2% em 2023, gerando ganhos que rondam os 600 mil milhões de euros. Olhando para o panorama europeu, as receitas do setor das armas das 27 empresas do Top 100 sediadas na Europa (excluindo a Rússia) aumentaram 0,2%, atingindo cerca de 123 mil milhões de euros em 2023 e representando 21% do total das 100 maiores empresas.
Este foi o menor aumento em qualquer região do mundo, mas pode ser explicado pelo facto de as empresas europeias de armamento que produzem sistemas de armas complexos estarem, na sua maioria, a trabalhar em contratos mais antigos durante 2023 e, consequentemente, as suas receitas para o ano não refletem a subida do número de encomendas. Dados do SIPRI mostram ainda que “vários outros produtores europeus viram as suas receitas de armamento crescer substancialmente, impulsionadas pela procura ligada à guerra na Ucrânia, em especial de munições, artilharia e sistemas de defesa aérea e terrestre”, nomeadamente, as empresas da Alemanha, Suécia, Ucrânia, Polónia, Noruega e Chéquia conseguiram tirar partido desta procura.
“Por exemplo, a Rheinmetall da Alemanha aumentou a capacidade de produção de munições de 155 mm e as suas receitas foram impulsionadas pelas entregas dos seus tanques Leopard e por novas encomendas, incluindo através de programas de 'troca de anéis' relacionados com a guerra (ao abrigo dos quais os países fornecem bens militares à Ucrânia e recebem substituições dos aliados), pode ler-se num relatório do Stockholm International Peace Research Institute de dezembro. A Rheinmetall é considerada a 26.ª maior fabricante de armas do mundo, com a Alemanha ainda a ser representada entre as 100 maiores pela ThyssenKrupp (66.º), pela Hensoldt (73.º) e pela Diehl (83.º).
Mas, entre os países europeus, o grande destaque vai para o Reino Unido – que embora já não faça parte da UE é um aliado em termos de Defesa do bloco, além de fazer parte da NATO -, cujas sete empresas apresentaram em 2023 receitas no valor de 44,2 mil milhões de euros, o que equivale a 7,5% do total dos ganhos do top 100. A BAE Systems é a sexta maior fabricante de armamento a nível mundial e a maior da Europa.
No top 100 dos maiores fabricantes de armas mundiais aparecem ainda as transeuropeias Airbus (12.º), MBDA (30.º) e KNDS (45.º), as italianas Leonardo (13.º) e Ficantieri (51.º), as francesas Thales (16.º), Naval Group (32.º), Safran (33.º), Dassault Aviaton Group (46.º) e CEA (50.º), a sueca Saab (35.º), a ucraniana JSC Ukranian Defense Industry (60.º), a polaca PGZ (64.º), a norueguesa Kongsbergg Gruppen (80.º), a espanhola Navantia (88.º) e a checa Czechoslovak Group (89.º).
OS 10 MAIORES FABRICANTES DE ARMAS DO MUNDO - por país e as suas receitas
1 - Lockeed Martin - EUA - 60 810 milhões de dólares
2 - RTX Corporation - EUA - 40 660 milhões de dólares
3 - Northrop Grumman - EUA - 35 570 milhões de dólares
4 - Boeing - EUA - 31 100 milhões de dólares
5 - General Dynamics - EUA - 30 200 milhões de dólares
6 - BAE Systems - Reino Unido - 29 810 milhões de dólares
7 - Rostec - Rússia - 21 730 milhões de dólares
8 - AVIC - China - 20 850 milhões de dólares
9 - NORINCO - China - 20 560 milhões de dólares
10 - CETC - China - 16 050 milhões de dólares
Fonte: Stockholm International Peace Research Institute. Os dados são referentes a 2023 e os valores das receitas estão em mil milhões de dólares.
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